BIOGRAFIA DOS UFÓLOGOS BRASILEIROS

domingo, abril 09, 2006

LUIZ PETRY 

  Quando cheguei à redação do programa Fantástico na tarde de 30 de janeiro de 1996, encontrei uma mensagem na tela do computador: a pesquisadora Irene Granchi, a maior especialista brasileira do Fenômeno UFO, telefonara para informar o aparecimento de duas estranhas criaturas na cidade de Varginha, no sul de Minas Gerais. Na área de Ufologia, dona Irene representa aquilo que os jornalistas chamam de fonte quente. Bem informada, dinâmica, investigadora experiente, ela por diversas vezes me colocara na trilha de boas reportagens. Isso sem falar do encanto pessoal. Quando eu precisava de uma orientação, uma sugestão de entrevistado, um comentário sobre algum novo caso relacionado aos chamados discos voadores, a primeira idéia que me ocorria era ligar para dona Irene. E foi a primeira coisa que fiz naquela tarde, depois de ler a mensagem na tela. A história que ela me contou era extraordinária: três moças tinham visto um ser bizarro. Outra criatura semelhante, capturada por militares, teria passado por um hospital da cidade. O caso fora abafado pelas autoridades. O relato tinha todos os contornos das teorias conspiratórias que inspiram filmes como os da série Arquivo X. Mas dona Irene apostou: “Quem me passou a história foi o advogado Ubirajara Rodrigues. Ligue para ele com urgência. Ubirajara é um pesquisador muito sério. Confio nele”. Eu lembrava de ter visto Ubirajara numa edição especial do Globo Repórter, exibida em setembro de 1993. Naquele programa, ele apresentou o chamado Caso Baependi; a fascinante experiência vivida em 1979 pelo fazendeiro Arlindo Gabriel dos Santos, que durante uma caçada assistiu ao pouso de quatro objetos voadores, viu tripulantes humanóides e, ainda segundo seu relato, viajou numa dessas naves. O grupo de ufólogos comandado por Ubirajara examinou o local do incidente e encontrou o embornal de Arlindo misteriosamente coberto por caracteres indecifráveis. Ubirajara teve o cuidado de confeccionar um molde em gesso de uma das marcas do pouso daquela que seria a nave maior. A impressão que guardei dele, ao ver aquela reportagem, foi a de um investigador meticuloso, articulado e lúcido. Mais tarde, ao conhecê-lo e acompanhá-lo na pesquisa do que consagrou-se como Caso Varginha, aquela impressão se confirmaria. Liguei para Ubirajara logo depois de conversar com Irene Granchi. Em poucos minutos, ele relatou as descobertas que fizera sobre o avistamento e a captura das duas criaturas aparentemente extraterrenas. Combinamos um encontro em Varginha. Na manhã seguinte, bem cedo, peguei a estrada com uma equipe de reportagem do Fantástico. Não poderia saber, mas eu estava prestes a presenciar o desenrolar de uma história que viria a ser conhecida no mundo inteiro. E que, até hoje, por vezes me tira algumas horas de sono; eu estive lá. Vi. E ouvi o necessário para me convencer da magnitude daqueles acontecimentos. Em Varginha, Ubirajara me levou à casa de Liliane e Valquíria. Onze dias depois do fato, elas ainda se mostravam muito impressionadas. Repetiam toda a história, com riqueza de detalhes, sem cair em qualquer contradição. Era evidente que não estavam mentindo. Elas viram aquela criatura agachada perto de um muro, registraram com precisão os olhos grandes, vermelhos, as protuberâncias na cabeça, o corpo de um marrom escuro, a pela lustrosa, “como se estivesse coberta de graxa”. Kátia, a terceira testemunha, chegou minutos depois. Sugeri que fôssemos todos ao local do avistamento para gravar as entrevistas. Liliane se recusava a voltar àquele lugar. Chorou, ficou nitidamente assustada, mas foi convencida pela mãe, dona Luíza, que insistiu: “Minha filha, você tem que superar isso”. Chegamos ao terreno no Jardim Andere onde o fato se deu e filmamos os depoimentos das três. Elas contaram a mesma história, sempre idêntica, inclusive nos detalhes que não tinham sido percebidos, como o nariz, ou a boca da estranha criatura. Estas eram coisas que elas não tiveram tempo de registrar no intervalo de poucos segundos entre o momento em que puseram os olhos naquele monstro e a fuga, em desespero. Àquela altura eu já estava contaminado pelo Caso Varginha. Depois viriam outros testemunhos. Médicos e funcionários dos hospitais por onde ao menos uma das criaturas teria passado relatavam estranhas movimentações por aqueles dias. Moradores da cidade afirmavam ter visto caminhões militares passando pelas ruas. Controladores de vôo diziam que a região fora visitada por objetos aéreos não identificados; e isso era corroborado por testemunhas, várias delas. Lembro-me de um médico, que não quis se identificar para as câmeras do Fantástico, declarar ter visto, enquanto dirigia numa estrada, “uma estrutura imensa, metálica, com luzes vermelhas, brancas e amarelas”. Questionado sobre a natureza do que viu, o médico completou, sem hesitar: “Eu vi uma nave. Posso afirmar isso, era uma nave”. Apareceram informações seguras de que essa movimentação anormal no espaço aéreo estava sendo cuidadosamente monitorada por radares. Soube-se também que, antes do caso estourar nos jornais, a Escola de Sargento das Armas (EsSA) ─ a unidade militar mais próxima a Varginha, na vizinha cidade de Três Corações, para onde uma das criaturas teria sido levada ; fazia varreduras noturnas com holofotes, como se procurasse algo no céu. Um informante garantiu ter visto destroços metálicos na carroceria de um caminhão, estacionado dentro da tal escola, sugerindo que alguma coisa muito estranha (uma nave acidentada, como em Roswell?) fora recolhida numa operação sigilosa. E o que diziam as autoridades sobre tudo isso? Negavam, naturalmente! Às vezes, com argumentos contraditórios. O comando da EsSA atribuiu a grande movimentação do dia 20 de janeiro à cerimônia de recepção dos novos calouros daquela unidade militar. A alegação seria perfeita, exceto por um detalhe: a tal recepção ocorreu uma semana depois, no dia 26 de janeiro! Essa não foi a única contradição do Caso Varginha. Houve muitas outras, a confundir uma história quase mitológica, mas evito aqui roubar do leitor o prazer de descobri-las no minucioso relato que tem agora em mãos. O leitor vai desvendar nestas páginas muitos elementos aparentemente bizarros: a misteriosa morte de um agente policial envolvido na captura de um dos seres. O piloto de ultraleve que conta ter visto soldados do Exército recolhendo destroços metálicos num terreno perto da estrada que liga Varginha a Três Corações. Vai ler o relato de uma dona de casa que afirma ter observado uma criatura semelhante àquela descrita por Kátia, Valquíria e Liliane. A autoridade civil que incentiva os pesquisadores a prosseguir, porque “o caso aconteceu mesmo”, como alegam seus porta-vozes. O casal que observou uma nave, segundo eles, “do tamanho de um micro-ônibus”, movendo-se lentamente a baixa altitude, expelindo uma espécie de fumaça, “como se estivesse em dificuldades”. Conheci muitos dos personagens que aparecem nesta obra. Mas minha experiência mais espantosa, seguramente, foi ouvir aqueles que, a meu ver, são os personagens maiores do Caso Varginha: os militares que afirmam ter participado da captura e posterior transferência das criaturas daquela cidade por determinadas instalações militares. Muitos questionaram os investigadores deste caso por não admitir o silêncio em torno da identidade dessas testemunhas. Levantaram-se dúvidas até mesmo sobre a existência delas. O que eu posso afirmar é que elas existem, sim. Apresentaram-nos suas credenciais e só aceitaram contar o que sabiam desde que seu anonimato fosse preservado. Manter o sigilo de uma fonte, nesses casos, é uma lei para qualquer investigador decente. As testemunhas militares do Caso Varginha confiaram nos pesquisadores e correram riscos ao detalhar a seqüência dos fatos; citando inclusive os nomes dos oficiais que teriam comandado as operações e ordenado o sigilo em torno destas. Nada tinham a ganhar com essa atitude. Prestaram suas declarações unicamente por acreditar que um fato de tamanha importância não deveria ser ocultado da opinião pública. Estive diante de duas dessas testemunhas e assisti ao depoimento gravado em vídeo de uma terceira. As informações são detalhadas, se completam, se encaixam perfeitamente na cronologia estabelecida por Ubirajara e por outros pesquisadores que a ele se uniram depois que o caso estourou. O Caso Varginha, apesar do esforço empregado até agora em sua elucidação, está longe de ser um caso perfeito, concluído. Onde estão as fotos das supostas criaturas? Não existiriam vídeos? Seria possível acobertar com tanta eficácia um acontecimento que teria envolvido um tão grande número de pessoas? É possível dar crédito a tamanho absurdo? Onde estão as provas? Bom, meu caro leitor, se você me permite, deixo uma sugestão: leia as linhas que se seguem, experimente a aventura que autor viveu, acompanhe de forma imparcial o fluxo dos acontecimentos que se sucederam em Varginha. Depois responda: se fosse você o investigador, abandonaria esse caso? Para mim, como jornalista, a oportunidade de ter acompanhado as investigações de Ubirajara Franco Rodrigues; que hoje considero um amigo leal e fraterno ; foi uma lição de honestidade e competência. Este livro revela que ele soube apurar, pesar e confrontar as informações, dando-lhes o valor exato, sem cair no erro de divulgar versões como fatos consumados, muito freqüente na pesquisa ufológica. A rigor, ele nem mesmo afirma categoricamente que os acontecimentos de Varginha tenham origem ufológica, por mais indícios que tenha encontrado disso. Ubirajara, com sólida formação acadêmica e possuidor (como bom advogado que é) de um raciocínio lógico, ordenado, afiado, nos concede finalmente o relato definitivo daquilo que, até o presente momento, pode ser conhecido a respeito de um caso que correu o mundo e que ainda pode apresentar desdobramentos de alcance inimaginável. Quando estive pela primeira vez em Varginha, assisti, na emissora coligada à Rede Globo no sul de Minas Gerais, a EPTV, a uma entrevista em que o autor dizia, textualmente, o seguinte: “Nós não vamos abandonar o caso. Todas as informações são bem-vindas”. Se eu conheço Ubirajara, ele não vai parar por aqui. Luiz Petry é jornalista e editor do Programa Fantástico da Rede Globo.

3 Comments:

  • At 7:45 AM, Blogger Robson Vianna said…

    Por favor, onde fica a redação do fantastico?

     
  • At 8:50 AM, Blogger Frater Mediator said…

    Por favor, como faço para me comunicar com o Luis Petry? Tenho algumas informações importantes para ele. Aguardo contato. Obg.

     
  • At 9:00 PM, Blogger Roberto said…

    Por favor, há muito tempo sou um amigo do Luiz A.F. Petry, mas perdi o contato devido às minhas mudanças de residência. Gostaria de saber como faço p/ me comunicar com ele:
    ramin1951@gmail.com
    Sou antigo residente de Ipanema/Leblon e hoje de volta a minha terra natal. Peço um contato, por favor.
    Obrigado.

     

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